Como o universo de jogos digitais é transformado pela conectividade
29 / Maio / 2025
Professor do curso de Jogos Digitais da UniRitter destaca mudanças provocadas pela internet na indústria de games, tanto para quem joga quanto para quem desenvolve
Totalmente inserida na rotina das pessoas, a internet está presente na maioria das atividades profissionais e pessoais da sociedade, inclusive nos momentos de lazer. Atualmente, grande parte das opções de entretenimento são moldadas pelas mudanças tecnológicas causadas pela conectividade, principalmente as alternativas de jogos digitais. Com o passar dos anos, o universo dos games viveu uma verdadeira revolução, tanto para os jogadores quanto para os desenvolvedores.
A 12ª edição da Pesquisa Game Brasil (PGB 2025), lançada em março de 2025, revela o cenário atual, em que 82,8% das respostas ao levantamento afirmam ter o costume de jogar algum tipo de jogo digital. Pela metodologia da pesquisa, a estimativa é que mais de 115 milhões de brasileiros sejam jogadores ativos no ambiente online, sendo que os smartphones lideram como principal plataforma utilizada (47,5%), seguidos pelos consoles (28,8%), aparelhos específicos e originalmente de uso exclusivo para jogos, e desktops (23,7%), que representam os notebooks e computadores de mesa. Os dados evidenciam o que o professor Vitor Leães, do curso de Jogos Digitais da UniRitter, considera a principal revolução da indústria causada pela conectividade. “A maior transformação promovida pela internet no mundo dos jogos é a mobilidade, que possibilita as pessoas a jogarem em qualquer lugar e a qualquer momento”, explica o docente.
Esse novo jeito de jogar, aliado ao avanço tecnológico dos celulares, alterou o modo como os jogos são desenvolvidos. “Hoje, os jogos digitais têm que ser multiplataforma. O desenvolvimento mobile ganhou tanta força que é comum programar o sistema primeiro para celular, para só depois adaptar para outras plataformas como desktop e console”, comenta Leães.
Das fitas à nuvem: a nova era da distribuição de jogos
Com a internet, as mídias físicas deram lugar ao download digital e ao streaming de jogos. O chamado cloud gaming elimina a necessidade de ter um aparelho potente para rodar um jogo. O professor explica que, atualmente, basta uma conexão estável para acessar jogos de alta performance, muitas vezes com preços mais acessíveis ou até gratuitos. “A nuvem democratizou o acesso aos jogos de qualidade, e esse avanço impulsiona não só o produto em si, mas várias outras indústrias ao redor da de jogos digitais”, destaca Leães.
Outro ponto marcante dessa era digital é o surgimento de novos modelos de negócio, como o freemium, que são jogos gratuitos com itens, upgrades ou funcionalidades pagas dentro do universo jogável. “Os estúdios perceberam que, às vezes, é melhor popularizar o jogo primeiro para depois cobrar”, analisa o professor. A lógica segue um padrão de consumo em que, ao conquistar muitos usuários, é mais fácil oferecer compras internas e manter o interesse com atualizações constantes.
O espaço online para os criadores independentes
Assim como novos modelos de negócios foram possibilitados, a internet também abriu espaço para que estúdios menores e criadores independentes se destacassem na indústria de jogos.
Ferramentas acessíveis de programação, comunidades de desenvolvedores e plataformas de publicação online permitiram que mais pessoas produzissem e disponibilizassem seus próprios jogos. “Essa transformação incentiva quem quer aprender a programar e quem quer criar produtos novos”, conta o professor de Jogos Digitais da UniRitter.
“Vimos uma onda de abertura de estúdios independentes que começaram publicando gratuitamente, para só depois monetizar com upgrades e extras”, pontua Leães. Esse movimento também foi aproveitado pelas maiores empresas do setor, que passaram a investir em serviços de assinatura e catálogos online com centenas de títulos, com muitos desses jogos tendo nascido no cenário independente.
Comunidades conectadas por jogos
Um dos principais aspectos proporcionados pela conectividade é a possibilidade de interação entre jogadores de diferentes partes do mundo. Os jogos online e multiplayer redefiniram a experiência dos gamers: além de entretenimento, se tornaram um canal de socialização, com comunidades, competições, amizades e até carreiras profissionais sendo formadas a partir dessas conexões.
De acordo com o docente, “as transformações que os jogos online causam podem ir além do entretenimento. Elas criam grupos identitários e experiências de pertencimento. “Às vezes, o mais importante não é nem o jogo em si, mas a conexão que ele promove entre as pessoas”.
Esse contexto social também é um dos grandes responsáveis por fomentar a indústria e manter fortes jogos famosos. Leães explica que League of Legends, Roblox e Minecraft são exemplos de títulos que se tornam experiências para além da jogabilidade, sendo vividos, discutidos e celebrados em fóruns, redes sociais e transmissões ao vivo por plataformas online, que fazem parte do cotidiano dos jogadores mais jovens.
A conectividade de gerações
Para quem cresceu já em um mundo digital, os games fazem parte da rotina assim como qualquer rede social. “A geração com menos de 30 anos está acostumada a jogar com streaming, nuvem e comunidades online, estando familiarizados desde cedo com a gama de possibilidades de jogos online para computadores e para mobile”, destaca o docente. Mesmo com o sucesso das opções para essas plataformas, Leães reforça: “os modelos de console não foram deixados de lado, a última geração de um Playstation ou de Xbox ainda é o sonho de consumo de muitas pessoas”.
Assim, também por meio dos aparelhos de videogames, os jogos digitais foram além de acompanharem o fenômeno de como a conectividade aumentou as opções de lazer sem sair de casa. “Os games onlines são um dos principais fatores que moldam essa mudança de comportamento”, segundo o professor. O que começou como uma alternativa aos jogos tradicionais agora movimenta bilhões de dólares anualmente, forma carreiras e conecta culturas. E conforme Vitor Leães, ainda é o começo da transformação: “Essa é só a ponta do iceberg. Há muito ainda para ser explorado, principalmente com a mobilidade e o crescimento das plataformas de streaming de jogos”.